Vivemos um momento decisivo para o planeta, em que a adaptação, mitigação e gestão das mudanças climáticas se tornam essenciais.
O cooperativismo brasileiro reconhece que este é um dos maiores desafios globais, devendo ser enfrentado com urgência e eficiência. Ao mesmo tempo, nos colocamos a postos para assumir um protagonismo cada vez maior nas ações que reafirmam o compromisso do cooperativismo com o desenvolvimento sustentável.
As cooperativas são negócios criados por pessoas e para pessoas. Isso fortalece o nosso compromisso em proteger, desenvolver e cuidar das comunidades onde estamos presentes. E essa é a essência da sustentabilidade.
As cooperativas demonstram que a valorização do bem comum e a preservação dos recursos naturais não são apenas um protocolo de intenções, mas uma realidade incorporada em cada uma de suas ações.
Não por acaso que mais de 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo escolheram o modelo de cooperativo como forma de ofertar seus produtos e serviços a partir da cooperação. No Brasil, não é diferente. Contamos com mais de 23 milhões de cooperados distribuídos em cerca de 4,5 mil cooperativas, que atuam em diversos setores da economia.
Pesquisa recente da Fipe indicou que cidades com cooperativas apresentam um acréscimo de R$ 5,1 na renda per capita em comparação com outras cidades. Isso ocorre porque as cooperativas geram um efeito multiplicador na economia local, já que o dinheiro circula e permanece na comunidade, criando um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico.
No setor agropecuário, reunimos mais de um milhão de agricultores, dos quais 71% são agricultores familiares, responsáveis por boa parte dos alimentos que estão nas nossas mesas todos os dias, com uma relevância muito grande para as políticas de segurança alimentar e combate à fome.
Na transferência de tecnologia no campo, as cooperativas também desempenham um papel crucial, com uma rede de mais de 9 mil técnicos extensionistas, o que reflete diretamente em agregação de valor e em boas práticas para os produtores rurais cooperados. Destes, 63% recebem assistência técnica e extensão rural, comparado a apenas 20% dos produtores na média nacional. E por que este dado é tão relevante? Porque é através desse trabalho que os produtores são orientados às melhores práticas sustentáveis de produção agropecuária, sendo este um dos pilares essenciais para reduzir as emissões de carbono no Brasil.
Nesta seara, as cooperativas têm sido importantes parceiras do governo brasileiro na implementação do Plano ABC+, a partir da implementação de sistemas sustentáveis, resilientes e produtivos que visam à redução das emissões de gases de efeito estufa e à adaptação às mudanças climáticas, em ações voltadas à recuperação de pastagens degradadas, manejo sustentável do solo, tratamento de dejetos agroindustriais, fomento da bioeconomia e da agricultura regenerativa, dentre outros.
Nos últimos anos, as cooperativas intensificaram seus esforços no desenvolvimento de projetos de energia renovável, visando mitigar as mudanças climáticas e promover um futuro mais sustentável. Atualmente, 736 cooperativas produziram sua própria energia, representando 16,35% de todo o cooperativismo. Essas iniciativas não apenas proporcionam benefícios econômicos e fomentam investimentos locais, mas também democratizam o acesso à energia, assegurando transparência nos custos e o empoderamento dos cooperados.
O cooperativismo brasileiro também foi um ator central na discussão e implementação do Código Florestal, marco fundamental para a preservação ambiental do Brasil e deve ser visto como exemplo para todas as nações. Vale destacar que, a partir do atual marco regulatório, os produtores brasileiros devem respeitar faixas de preservação que variam de 20% a 80% de suas terras, a depender do bioma. Esta é a hora de avançarmos um passo a mais. Para combatermos o desmatamento ilegal na Amazônia e em outros biomas brasileiros, defendemos a uniformização e sistematização das análises do Cadastro Ambiental Rural (CAR) pelos entes federativos.
Nas políticas de financiamento verde, as cooperativas de crédito desempenham um papel estratégico, dada a sua grande capilaridade em todo o território nacional, inclusive nas cidades e comunidades do interior do país. Com a maior rede de atendimento entre as IFs, as cooperativas de crédito possuem postos de atendimento em 368 municípios onde não existe outras financeiras presentes, o que coloca o nosso movimento como um dos maiores motores de inclusão financeira e de desenvolvimento sustentável do país.
Por essas e outras inúmeras contribuições do modelo cooperativista para a sociedade mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas, destacando a conexão do nosso movimento com a Agenda 2030. Este é um momento ímpar para destacar o modelo de negócios cooperativo na agenda global, de forma concreta e impactante, no combate às mudanças climáticas.
Para que isso aconteça, o modelo cooperativista deve ser integrado na agenda de desenvolvimento sustentável cada uma das nações, como modelo de negócios responsável e de impacto social e econômico positivo, e imprescindível nas metas globais de enfrentamento das mudanças climáticas.
Queremos que as cooperativas sejam devidamente reconhecidas, valorizadas e fomentadas como soluções para a segurança alimentar, ferramentas para uma economia de baixo carbono, impulsionadoras da bioeconomia e, principalmente, como instrumentos para a implementação do pacto global nas comunidades.
Também consideramos a importância da regulamentação do mercado de carbono para reduzir as emissões de gases do efeito estufa na atmosfera, a partir de investimentos e esforços em prol da preservação, conservação e recuperação do meio ambiente. Para tanto, consideramos ser necessário criar um ambiente regulatório favorável a esse mercado, com metodologias adequadas a países com características distintas, e que viabilize o acesso facilitado de recursos nacionais e internacionais para projetos ambientais localizados em áreas públicas ou em propriedades privadas, como Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reservas Legais (RL). Além disso, é necessário dar segurança jurídica para que os produtores rurais tenham a prerrogativa de participar ou não dos programas conduzidos pelos poderes públicos locais, inclusive sendo recompensados por esses créditos.
Neste sentido, o combate às mudanças climáticas não deve ser visto como um ônus ou um custo a ser minimizado, mas sim como uma oportunidade de transformação econômica. O Brasil, com sua vasta cobertura florestal e biodiversidade, está em uma posição privilegiada para liderar essa agenda, de forma a incentivar a preservação ambiental e o uso sustentável dos recursos naturais como um ativo econômico para alavancar o crescimento, e o cooperativismo certamente faz parte dessa força-tarefa.
Temos convicção que apenas por meio da cooperação que encontraremos os caminhos para a produção sustentável que todos desejamos.
Sistema OCB
Brasília, 12 de novembro de 2024.