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Cooperativas de crédito protagonizam iniciativas ESG no Brasil

09/10/2024 01:07
Cooperativas de crédito protagonizam iniciativas ESG no Brasil

O cooperativismo de crédito brasileiro é um dos grandes apoiadores para a construção de um ecossistema financeiro mais responsável. Com 15,5 milhões de associados, as mais de 700 cooperativas de crédito do país cumprem um papel importante para a inclusão financeira, financiamento de projetos sustentáveis e desenvolvimento das comunidades.

O segmento é uma grande potência dentro dos serviços financeiros no Brasil. Segundo o Anuário do Cooperativismo Brasileiro, produzido pelo Sistema OCB, o setor soma R$ 656 bilhões em ativos e gerou, em 2022, R$ 12,8 bilhões em sobras do exercício.

Assim sendo, o cooperativismo de crédito brasileiro segue um movimento de expansão e crescimento, mas sem perder o contato com as comunidades. Diante disso, desde as cooperativas singulares regionais até os grandes sistemas cooperativos nacionais desenvolvem iniciativas de cuidado com o meio ambiente e com as pessoas.

 

Finanças verdes

Com mais de 7 milhões de cooperados, o Sicredi tem um papel de pioneirismo para o desenvolvimento das finanças verdes no país. Um dos maiores exemplos disso se deu quando, em 2022, o Sicredi emitiu a primeira Letra Financeira Pública Sustentável do Brasil.

A iniciativa captou R$ 780 bilhões que foram convertidos em crédito para financiar projetos alinhados à sustentabilidade voltados à energia renovável, apoio a pequenos negócios de impacto local e a pequenas e médias empresas lideradas por mulheres. Os resultados já são palpáveis:

“Na operação de energia renovável, foi evitada a emissão de 4,9 mil toneladas por ano de gases de efeito estufa. Além disso, nas operações voltadas à elegibilidade social, contribuímos para a sustentação de mais de 80 mil empregos”, explica João Pedro Segabinazzi Stephanou, gerente de operações estruturadas e finanças sustentáveis do Sicredi.

O Sicredi também está à frente de outras iniciativas financeiras sustentáveis. Hoje, por exemplo, o Sicredi é o segundo maior financiador de crédito rural do Brasil com foco no apoio a pequenos agricultores em busca de melhorar as condições de trabalho.

Nesse cenário, a cooperativa desenvolveu um plano multidisciplinar a fim de oferecer condições para que o pequeno produtor tenha como investir em materiais, sistemas e equipamentos priorizando uma produção sustentável. A iniciativa ainda emprega tecnologias para avaliar a sustentabilidade dos projetos apoiados e mapear áreas de preservação.

Uma outra ação de financiamento voltada a apoiar mudanças benéficas ao meio ambiente é realizada pelo Sicoob Aracoop, que atua nos estados de Minas Gerais e Pará. Em sua carteira de investimentos sustentáveis, destaca-se o investimento de R$ 3,2 milhões para a construção da Usina de Energia Fotovoltaica da Associação dos Usuários do Projeto Pirapora (AUPPI).

“A AUPPI buscava um projeto que atendesse aos pilares de economia para seus associados e compromisso com o meio ambiente. Através da relação duradoura da AUPPI com o Sicoob Aracoop, e seguindo os princípios de apoio a projetos que vão ao encontro da sustentabilidade e do crescimento econômico da região, o Sicoob Aracoop atendeu imediatamente a demanda do projeto”, conta Euder Freitas, gerente regional de negócios do Sicoob Aracoop, ao Cooperação Ambiental.

 

Produção sustentável

O cooperativismo de crédito brasileiro tem uma relação estreita com o setor de produção agropecuária. Dessa forma, o Ramo investe em prol do desenvolvimento de um campo mais produtivo, social e sustentável. O impacto pode ser grande, como no caso do Sicoob Credip e os produtores de café de Rondônia.

Em meio a um cenário de declínio da cafeicultura local e aumento no desmatamento, a cooperativa, em parceria com o Sebrae, a Embrapa e a associação local de produtores de café, investiu na ciência para dar novos caminhos à produção local. A construção de uma base genética única deu origem aos cafés especiais Robustas Amazônicos, já premiados por sua qualidade.

“Adotar novas tecnologias produtivas, que agregam produtividade e renda, trazendo para a questão da preservação também a dimensão do amazônida e da sua dignidade é a única forma que o Sicoob tem enxergado para apoiar no enfrentamento ao desmatamento. Portanto, passamos a entender que o apoio ao pequeno cafeicultor na sua transição tecnológica representa a condição de trazer dignidade e preservação da floresta” conta Oberdan Pandolfi Ermita, presidente do conselho de administração do Sicoob Credip.

O fortalecimento da agricultura familiar é central para tornar a produção agrícola mais sustentável. O Sicredi atua para isso. Só em 2022, o Sicredi disponibilizou mais de R$ 10 bilhões à agricultura familiar por meio do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), permitindo a modernização das propriedades rurais familiares.

Além do Pronaf, a cooperativa também atua em uma série de outros produtos voltados à economia verde. Por exemplo: Renovagro, FCO, FNO, linhas para energia renovável, entre outros.

“Por conta de nossa natureza cooperativa, os recursos captados em uma localidade são revertidos em crédito a outros associados do mesmo local, criando um ciclo virtuoso que estimula o investimento na cooperativa, a inclusão de um número maior de pessoas no sistema financeiro e o fortalecimento do negócio dos nossos associados”, explicam Daniela dos Santos da Silva e Rebecca de Albuquerque Grandmaison, especialistas em estratégia no agronegócio do Sicredi.

 

Proteção ambiental

A proximidade com os ecossistemas locais faz com que as cooperativas singulares tenham uma abordagem certeira em iniciativas de preservação ambiental com impacto positivo nas comunidades. É assim que a Cresol Minas Gerais desenvolveu um projeto de recuperação e revitalização de nascentes na cidade mineira de Espera Feliz.

A iniciativa, realizada em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar de Espera Feliz, trabalhou para proteger e revitalizar nascentes presentes em 21 propriedades de agricultores das comunidades da Bacia do Rio Itabapoana, afetando positivamente mais de 100 famílias.

O nome da Sicredi Grandes Lagos não é fruto do acaso. A cooperativa atua no Paraná, em regiões cercadas de lagos e represas, e no litoral de São Paulo, banhado pelo mar. Diante disso, ela passou a se dedicar à proteção dos recursos hídricos e ecossistemas marítimos.

Daí surgiu o Projeto de Proteção de Fontes, com 17 ações que contemplaram diversas cidades paranaenses. O objetivo é realizar mais de 50 proteções de fontes até 2030. Além disso, a cooperativa promoveu a soltura de alevinos no alagado de Rio Bonito do Iguaçu, também no Paraná, a fim de preservar a vida nas águas e a saúde do lago.

Já nas cidades praianas de São Paulo, o projeto Pé na Areia realizou ações de limpeza da areia e conscientização sobre a poluição. “Essas ações estão conectadas às estratégias da cooperativa em prol de desenvolver a comunidade”, conta Maria Nivete Presa, assessora de desenvolvimento do cooperativismo da Sicredi Grandes Lagos.

A transformação não está só no nome da Cresol Transformação, atuante nos estados de Santa Catarina e Minas Gerais. Em 2023, a coop liderou a Ação de Cooperação para o Meio Ambiente, uma iniciativa da cooperativa para promover sensibilização tanto dos colaboradores quanto das comunidades sobre o meio ambiente.

A iniciativa realizou uma série de ações, como a entrega e o plantio de mudas, caminhadas ecológicas e oficinas de educação ambiental, dentre outras atividades. O planejamento do projeto levou em conta as necessidades de cada localidade em que a cooperativa está presente.

 

Desenvolvimento comunitário

O desenvolvimento social e econômico também tem tudo a ver com a atuação das cooperativas de crédito. Ações que combinam responsabilidade ambiental e cuidado social aproximam ainda mais as cooperativas de suas comunidades. Um exemplo é o Batalhão do Bem, da Unicred Ponto Capital, que coloca a economia circular a serviço da preservação ambiental e geração de renda.

O Batalhão do Bem, feito em conjunto com o Instituto Unicred, reutiliza resíduos têxteis oriundos de fardas e vestimentas descartadas por unidades militares na região de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O material pode ser reaproveitado após um processo de restauração ou servir de matéria-prima para customização e transformação e em produtos que podem ser comercializados pelas alunas dos cursos que o projeto oferece.

“Os objetivos do projeto são pautados no incentivo à economia circular, formação e profissionalização de artesãs, doação de peças em bom estado para recicladores e impactar positivamente a comunidade beneficiada alinhado aos princípios cooperativistas”, explica Wellinton Henrique Azambuja Martins, assessor executivo de governança da Unicred Ponto Capital.

O Sistema Cresol, por sua vez, está em uma jornada para construir o futuro por meio do engajamento das novas gerações. Nesse sentido, o principal projeto é o Juventude Conectada, idealizado durante a pandemia para engajar os jovens à cooperativa através de uma jornada de aprendizagem on-line durante 14 semanas que abarca educação cooperativista, financeira e profissional.

“Por meio do projeto, os jovens conhecem nossa atuação e a forma cooperativa de ser, que se identifica com muitos anseios de seus anseios e, assim, tornam-se novos cooperados. Isso fortalece o vínculo da família com a cooperativa”, conclui Helem Baldissera, analista de relacionamento da Cresol.