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Troca de saberes na floresta

Na floresta Amazônica, as árvores não sobrevivem sozinhas. Elas precisam umas das outras para crescer, e ficam ainda mais fortes quando dividem espaço com outros tipos de plantas e vegetais. Essa foi a lição que a população ribeirinha ensinou para a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), fundada em 1931, no estado do Pará.

Durante quase 30 anos, os cooperados da Camta — em sua maioria, descendente de imigrantes japoneses — viveram da monocultura. Eles plantavam pimenta-do-reino na região da floresta e, pela qualidade do produto, exportavam quase metade da produção para outros países. Tudo ia muito bem, até que, na década de 70, toda a produção da cooperativa foi dizimada por uma praga. Foi o começo de uma grande crise.

Em busca de soluções, os cooperados foram buscar a ajuda de quem melhor conhecia a região: a população ribeirinha, que vive às margens do Rio Amazonas. E foram eles que deram o caminho das pedras para a salvação da Camta: reproduzir, na cooperativa, o que a natureza fazia na floresta. Lá, diferentes espécies cooperam entre si para garantir que todas possam crescer firmes, fortes e sustentáveis.

Nascia, ali, a implantação do sistema agroflorestal de produção da cooperativa, conhecido como SAFTA – sigla para Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu. O modelo de produção reúne, em um mesmo terreno, açaí, cacau, maracujá, mandioca, pimenta-do-reino e outros alimentos.

As folhas das plantas de uma cultura servem de adubo para o crescimento de outras. Ao imitar o ciclo natural da floresta, esse modelo de agricultura preserva o solo e aumenta a produtividade, além de garantir uma produção de alimentos ambientalmente correta, com o sequestro de carbono, e 100% sustentável, em ciclos produtivos de 25 a 30 anos.

PRODUÇÃO MELHORADA

O sistema de produção agroflorestal da Camta hoje abrange 40 mil hectares de terras, onde a natureza é respeitada. A cooperativa produz cerca de 800 toneladas de cacau por ano (1/4 da produção anual do município de Tomé-Açu) e 6.000 toneladas de polpas de frutas por ano (metade destinada ao mercado externo), além de outros alimentos como arroz, milho e pimenta-do-reino. É a prova de que é possível e necessário aumentar a produção sem ferir o meio ambiente.

Desde a implantação do SAFTA, na começo dos anos 2000, a cooperativa acumulou 10 prêmios de sustentabilidade nacionais e internacionais. Um modelo de produção que garante o sustento de cerca de 172 famílias de cooperados na região, ajuda a reduzir o desmatamento da Amazônia e ainda ajuda a melhorar a qualidade de vida de mais de 10 mil pessoas, nas comunidades amazônicas beneficiadas pela coop.

Além disso, a cooperativa detém selos de reconhecimento da produção orgânica em países com critérios rigorosos de importação, como é o caso do selo JAS (selo de orgânicos do Japão), o selo USDA Organic (Estados Unidos), o selo de agricultura orgânica da União Europeia e o selo International Organic. Por fim, também foi o primeiro empreendimento a obter o Selo de Indicação Geográfica do Estado do Pará.

Quer mais? A Camta foi selecionada recentemente em um edital de inovação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que levará esse modelo de produção para outros produtores da Amazônia, o que promete reduzir em mais de cinco vezes a emissão de gases poluentes provenientes da produção agrícola.

Um exemplo de como o intercâmbio de saberes pode ajudar a alavancar uma economia de baixo carbono cada vez mais verde e sustentável.

Ficha técnica

Cooperativa:

Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA)

Objetivo:

Promover a viabilidade socioeconômica e ambiental da comunidade por meio da geração de renda e da produção de alimentos em sistemas agroflorestais.

Resultados:

  • Renda contínua para os cooperados no curto, médio e longo prazos.
  • Garantia de venda dos produtos produzidos.
  • Aumento da sustentabilidade da produção, já que não há necessidade de desmatamento.
  • Recuperação da biodiversidade, fauna e flora, pelo reflorestamento da região.
  • Melhoria no microclima da região.
  • Fim do uso do fogo nos sistemas produtivos.
  • Geração de emprego e qualificação, pois o sistema agroflorestal necessita de mão de obra especializada nos tratos culturais.
  • Adoção de tecnologia que possibilita acesso a instrumentos econômicos, como o pagamento por serviços ambientais e crédito de carbono.
  • Proximidade com a economia circular, com a busca de eficiência na cadeia produtiva e no aproveitamento de resíduos sólidos e líquidos para a produção de fertilizantes.