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10/11/2021

Brasil leva para a COP26 experiências com biogás e energias alternativas

Renovação da matriz energética é essencial para agropecuária brasileira garantir mercado internacional. Cooperativas podem acessar linha de crédito específica para essa área.

A conexão Glasgow – Brasília na 26ª edição da Conferência das Partes (COP26) criou uma vitrine internacional para os projetos de geração de energia alternativa a partir do agronegócio brasileiro. O setor de biogás se fez presente e mostrou porque também deve permanecer no radar das cooperativas. O programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC Mais) já oferece cerca de R$ 20 milhões por ano para as cooperativas interessadas em produzir energia a partir do biogás e do biometano. Mas para onde caminha esse negócio que demanda alta tecnologia e visão de futuro?

A gerente executiva da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), Tamar Roitman, afirma que a estimativa de crescimento do setor é de cerca de 20% ao ano, chegando em 2030 com produção de 30 milhões de metros cúbicos de biogás por ano. Para que essas metas sejam alcançadas, são necessários mais investimentos e políticas públicas. A interlocução para que isso seja possível é feita pela Abiogás.

Criada em 2013, a associação reúne mais de 80 empresas que transformam resíduos em energia. Um dos desafios do setor é reduzir os custos de produção do biogás, que ainda demanda muita pesquisa e novas tecnologias. Além do biometano, obtido a partir do processamento do biogás, o setor trabalha para desenvolver o hidrogênio verde e a amônia verde. Biocombustíveis que podem ser utilizados no transporte, indústria, agronegócio e consumo doméstico.

“Temos um potencial inigualável no mundo. Precisamos valorizar nossos recursos e colocar esse potencial de pé. Podemos suprir 35% da demanda de energia elétrica do país”, calcula a gerente executiva da Abiogás.

De acordo com ela, o “pré-sal caipira” tem entre as vantagens o fato de estar espalhado por todas as regiões do Brasil, especialmente no interior. “São 675 plantas, a maior parte delas direcionada para gerar energia elétrica limpa. Comparado com o diesel, o biometano pode reduzir a emissão de gases de efeito estufa em mais de 300%, como é o caso do biogás gerado a partir dos resíduos da produção de leite.”

PONTE PARA O FUTURO

Os mercados internacionais esperam a transição energética brasileira para uma matriz limpa o mais rápido possível. Isso irá garantir compradores e valorizar os produtos brasileiros no exterior. Até mesmo os grandes importadores de carne já demandam que a pecuária adote tecnologias de redução de emissões. Internamente, as indústrias também desejam mudar sua matriz energética e os próprios consumidores estão cada vez mais atentos ao tema.

Sidney Medeiros, da Coordenação-Geral de Mudança do Clima do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, ressalta que a agropecuária é diretamente impactada pelas mudanças climáticas, mas também é um dos setores que mais pode contribuir para reverter ou minimizar essas alterações. Para ele, a produção de biogás a partir de resíduos da agropecuária é um exemplo disso.

“Temos que estabelecer a ponte entre a tecnologia e os produtores para fazer o conhecimento chegar na ponta”, destaca Medeiros. “Queremos um Plano Safra cada vez mais verde. Por isso, disponibilizamos uma linha de crédito de R$ 5 bilhões para o programa ABC Mais.”

Pelos cálculos do governo federal, o país possui hoje 52 milhões de hectares de áreas rurais utilizando tecnologia de baixa emissão de carbono. A meta de tratamento de dejetos já foi superada em nove vezes. O desafio agora é impulsionar a implementação de biodigestores, equipamento utilizado para acelerar o processo de decomposição da matéria orgânica através da ausência de oxigênio.

O financiamento e a assistência técnica ajudaram o produtor rural Luiz Carlos Figueiredo a investir em tecnologias limpas nas oito propriedades rurais da família. Ele relatou a experiência com irrigação e energia alternativa no painel brasileiro da COP26. As fazendas Figueiredo alternam a ocupação do solo com o cultivo de soja, milho, café e trigo.

“Cinco pequenas barragens com piscinões são utilizadas para a irrigação, o que garante o abastecimento no período de seca. A água também é usada no cuidado com os animais, na produção de leite e de ovos”, detalhou o produtor. Sob os piscinões, foram instalados painéis de captação de energia solar. A água usada para a limpeza de dejetos é direcionada para um biodigestor, que também gera energia. Assim, além de contribuir para a redução na emissão de gases, a propriedade rural é cada vez mais autosustentável. Um exemplo para os produtores rurais no Brasil e no mundo.